sábado, 31 de agosto de 2013

Enquanto quis Fortuna que tivesse Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento Me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento, Escureceu-me o engenho co'o tormento, Para que seus enganos não disesse Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades! Quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são e não defeitos; E sabei que, segundo o amor tiverdes, Tereis o entendimento de meus versos. Luís de Camões


Se tanta pena tenho merecida Em pago de sofrer tantas durezas, Provai, Senhora, em mim vossas cruezas, Que aqui tendes uma alma oferecida. Nela experimentai, se sois servida, Desprezos, desfavores e asperezas, Que mores sofrimentos e firmezas Sustentarei na guerra desta vida. Mas contra vosso olhos quais serão? Forçado é que tudo se lhe renda, Mas porei por escudo o coração. Porque, em tão dura e áspera contenda, É bem que, pois não acho defensão, Com me meter nas lanças me defenda. Luís de Camões


Tomou-me vossa vista soberana Aonde tinha as armas mais à mão, Por mostrar que quem busca defensão Contra esses belos olhos, que se engana. Por ficar da vitória mais ufana, Deixou-me armar primeiro da razão; Cuidei de me salvar, mas foi em vão, Que contra o Céu não vale defensa humana. Mas porém, se vos tinha prometido O vosso alto destino esta vitória, Ser-vos tudo bem pouco está sabido. Que posto que estivesse apercebido, Não levais de vencer-me grande glória; Maior a levo eu de ser vencido. Luís de Camões


Ah! minha Dinamene! Assim deixaste Ah! minha Dinamene! Assim deixaste Quem não deixara nunca de querer-te! Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te, Tão asinha esta vida desprezaste! Como já pera sempre te apartaste De quem tão longe estava de perder-te? Puderam estas ondas defender-te Que não visses quem tanto magoaste? Nem falar-te somente a dura Morte Me deixou, que tão cedo o negro manto Em teus olhos deitado consentiste! Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte! Que pena sentirei que valha tanto, Que inda tenha por pouco viver triste? Luís de Camões


O fogo que na branda cera ardia O fogo que na branda cera ardia, Vendo o rosto gentil que na alma vejo. Se acendeu de outro fogo do desejo, Por alcançar a luz que vence o dia. Como de dois ardores se incendia, Da grande impaciência fez despejo, E, remetendo com furor sobejo, Vos foi beijar na parte onde se via. Ditosa aquela flama, que se atreve Apagar seus ardores e tormentos Na vista do que o mundo tremer deve! Namoram-se, Senhora, os Elementos De vós, e queima o fogo aquela nave Que queima corações e pensamentos. Luís de Camões


Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente Luís de Camões


A verdadeira afeição na longa ausência se prova. Luís de Camões


Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos. Luís de Camões


De quantas graças tinha, a Natureza De quantas graças tinha, a Natureza Fez um belo e riquíssimo tesouro, E com rubis e rosas, neve e ouro, Formou sublime e angélica beleza. Pôs na boca os rubis, e na pureza Do belo rosto as rosas, por quem mouro; No cabelo o valor do metal louro; No peito a neve em que a alma tenho acesa. Mas nos olhos mostrou quanto podia, E fez deles um sol, onde se apura A luz mais clara que a do claro dia. Enfim, Senhora, em vossa compostura Ela a apurar chegou quanto sabia De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura. Luís de Camões


Verdes são os campos Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração. Luís de Camões


Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos. Luís de Camões


Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê. Luís de Camões


Quem vê, Senhora, claro e manifesto O lindo ser de vossos olhos belos, Se não perder de vista só em vê-los, Já não paga o que deve a vosso gesto. Este me parecia preço honesto; Mas eu, por de vantagem merecê-los, Dei mais a vida e alma por querê-los, Donde já não me fica mais de resto. Assim que a vida e alma e esperança, E tudo quanto tenho, tudo é vosso, E o proveito disso eu só o levo. Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho e quanto posso, Que, quanto mais vos pago, mais vos devo. Luís de Camões


Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. Farei que amor a todos avivente, Pintando mil segredos delicados, Brandas iras, suspiros magoados, Temerosa ousadia e pena ausente. Também, Senhora, do desprezo honesto De vossa vista branda e rigorosa, Contentar-me-ei dizendo a menor parte. Porém, pera cantar de vosso gesto A composição alta e milagrosa Aqui falta saber, engenho e arte. Luís de Camões


Busque Amor novas artes, novo engenho, para matar me, e novas esquivanças; que não pode tirar me as esperanças, que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê. Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê. Luís de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade É servir a quem vence o vencedor, É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade; Se tão contrário a si é o mesmo amor? Luís de Camões


Os bons vi sempre passar/ No mundo graves tormentos;/ E para mais me espantar/ Os maus vi sempre nadar/ Em mar de contentamentos. Luís de Camões


O fraco rei faz fraca a forte gente. Luís de Camões


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía. Luís de Camões


Vencido está de amor Vencido está de amor Meu pensamento O mais que pode ser Vencida a vida, Sujeita a vos servir e Instituída, Oferecendo tudo A vosso intento. Contente deste bem, Louva o momento Outra vez renovar Tão bem perdida; A causa que me guia A tal ferida, Ou hora em que se viu Seu perdimento. Mil vezes desejando Está segura Com essa pretensão Nesta empresa, Tão estranha, tão doce, Honrosa e alta Voltando só por vós Outra ventura, Jurando não seguir Rara firmeza, Sem ser no vosso amor Achado em falta. Luís de Camões


Quem pode livre ser, gentil Senhora, Vendo-vos com juízo sossegado, Se o Menino que de olhos é privado Nas meninas de vossos olhos mora? Ali manda, ali reina, ali namora, Ali vive das gentes venerado; Que o vivo lume e o rosto delicado Imagens são nas quais o Amor se adora. Quem vê que em branca neve nascem rosas Que fios crespos de ouro vão cercando, Se por entre esta luz a vista passa, Raios de ouro verá, que as duvidosas Almas estão no peito trespassando Assim como um cristal o Sol trespassa. Luís de Camões


Quando de minhas mágoas a comprida Maginação os olhos me adormece, Em sonhos aquela alma me aparece Que pera mim foi sonho nesta vida. Lá numa saudade, onde estendida A vista pelo campo desfalece, Corro pera ela; e ela então parece Que mais de mim se alonga, compelida. Brado: - Não me fujais, sombra benina! Ela, os olhos em mim c'um brando pejo, Como quem diz que já não pode ser, Torna a fugir-me; e eu gritando: - Dina... Antes que diga: - mene, acordo, e vejo Que nem um breve engano posso ter. Luís de Camões


Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. Farei que amor a todos avivente, Pintando mil segredos delicados, Brandas iras, suspiros magoados, Temerosa ousadia e pena ausente. Também, Senhora, do desprezo honesto De vossa vista branda e rigorosa, Contentar-me-ei dizendo a menor parte. Porém, pera cantar de vosso gesto A composição alta e milagrosa Aqui falta saber, engenho e arte". Ao Meu Amigo, Vento..., Leve, O Amor...!!! Te Amo...!!! Luís de Camões


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía. Luís de Camões


Aquela cativa Que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. Nem no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular, Olhos sossegados, Pretos e cansados, Mas não de matar. U~a graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora De quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde opinião Que os louros são belos. Pretidão de Amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão, Que o siso acompanha; Bem parece estranha, Mas bárbara não. Presença serena Que a tormenta amansa; Nela, enfim, descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo; E. pois nela vivo, É força que viva. Luís de Camões


Quando da bela vista e doce riso Tomando estão meus olhos mantimentos, Tão elevado sinto o pensamento, Que me faz ver na terra o Paraiso. Tanto do bem humano estou diviso, Que qualquer outro bem julgo por vento; Assi que em caso tal, segundo sento, Assaz de pouco faz quem perde o siso. Em vos louvar, Senhora, não me fundo, Porque quem vossas cousas claro sente, Sentirá que não pode merecê-las. Que de tanta estranheza sois ao mundo, Que não é d´estranhar, Dama excelente, Quem vos fez, fizesse Céu e estrelas. Luís de Camões


Extremos são de Amor os que padeço, ó humano tesouro!Ó doce glória! E se cuido que acabo,então começo; Assim te trago sempre na memória, nem sei se vivo ou morro, mas conheço que no fim da batalha é a vitória... Luís de Camões


Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia o pai, servia a ela, e a ela só por prémio pretendia. Luís de Camões


No mundo quis um tempo que se achasse o bem que por acerto ou sorte vinha; e, por experimentar que dita tinha, quis que a Fortuna em mim se experimentasse. Mas por que meu destino me mostrasse que nem ter esperanças me convinha, nunca nesta tão longa vida minha cousa me deixou ver que desejasse. Mudando andei costume, terra e estado, por ver se se mudava a sorte dura; a vida pus nas mãos de um leve lenho. Mas (segundo o que o Céu me tem mostrado) já sei que deste meu buscar ventura, achado tenho já, que não a tenho. Luís de Camões


"Amor é fogo que arde sem se ver" Luís de Camões


Mas, conquanto não pode haver desgosto Onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê; Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e dói não sei porquê. Luís de Camões


Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê." Luís de Camões


Tão cedo passa tudo quanto passa" Luís de Camões


Porque é tamanha bem-aventurança O dar-vos quanto tenho e quanto posso, Que, quanto mais vos pago, mais vos devo. Luís de Camões


Tu es a cativa que me tens cativo Luís de Camões


O talento educa-se na calma, o caráter no tumulto da vida. Desconhecido